Stefan
Salej
Há dois anos que as águas enlameadas rolaram da barragem da Samarco pelo
lugarejo chamado São Bento, pela minha Barra Longa e por Mariana. Tiraram
vidas, empregos, esperanças e enlamearam os rios até o mar. Sujaram a alma
mineira por dezenas de anos, alma de quem oferecia suas terras ricas de
minérios para serem exploradas para o bem dos homens. E como inúmeras vezes
nesse negócio, onde o ganho de alguns, em detrimento do prejuízo de todos,
prevalece, assim aconteceu também no rompimento da barragem de Mariana.
Se não fosse a imprensa, e em especial a TV Globo, que mostrou que depois de
dois anos muito foi feito e nada aconteceu, que o desastre ainda povoa a
memória e a vida das pessoas atingidas, provavelmente ninguém lembraria. As
entidades de mineração, como seu sindicato e sua entidade federativa, não
foram capazes de organizar uma análise critica do que aconteceu e como está
sendo resolvida a questão. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas
continua mais preocupada com a fiscalização das empresas dos adversários
políticos dos amigos dos seus dirigentes do que com a questão da barragem de
Mariana. Os acionistas da empresa, Vale e BHP, já estabeleceram que foi um
desastre e, com uma solução mais de relações públicas do que de consertar o que
esta difícil de ser consertado, criaram uma fundação Renova e encheram de
dinheiro para resolver o problema da empresa e não da população atingida.
Não é que Renova não faz um bom trabalho, faz. Mas o objetivo tanto da Renova
como dos políticos mineiros e da própria Samarco, é colocar a empresa para
funcionar. Assim vai gerar emprego e impostos e tudo vai cair no esquecimento.
A Justiça estadual, com alguns jovens e dedicados procuradores, tenta reparar o
dano, mas como sempre anda devagar e sem perspectivas de solução. Em resumo,
segundo jornal Folha de São Paulo, a empresa se salva e o cidadão prejudicado
fica prejudicado.
Nessa tragédia toda ainda há aproveitadores como os prefeitos de algumas
cidades atingidas, o exemplo mais gritante é onde Barra Longa (que de fato
virou um barra de lama longa), que prometeram mundos e fundos para os
eleitores por conta das indenizações do desastre. E aí o dinheiro até
pode ir para as Prefeituras, mas não chega à população.
Em resumo, como Minas ainda tem muitas barragens como a de Mariana, e
ninguém está fazendo nada para que o modelo de exploração mude, a única esperança
que resta é que a exploração mineral cresça mais na Amazônia, porque
assim ninguém em Minas fica preocupado com o que vai acontecer. Porque pelo
andar da solução desse desastre, só rezando para que não aconteça o
próximo, visto que, dependendo do governo e das mineradoras, dos seus
líderes, do judiciário e dos políticos, nada de bom vai acontecer.
DEPENDENDO DO GOVERNO, DAS MINERADORAS, DO JUDICIÁRIO E DOS
POLÍTICOS, NADA DE BOM VAI ACONTECER
STEFAN SALEJ, consultor empresarial, foi presidente do Sistema Fiemg e do
Sebrae/MG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário