Stefan Salej
Na semana passada foi concluída em
Brasilia mais uma etapa de negociações entre os representantes da União
Europeia, EU, e Mercosul sobre o tratado de comércio entre os dois blocos
econômicos. Como toda negociação em curso, as conclusões são parciais mas indicam
ao mesmo tempo uma forte tendência de que a conclusão do acordo interessa às
duas partes. O acordo comercial entre esses dois blocos econômicos em que
residem mais de 650 milhões de pessoas será, uma vez concluído, o maior acordo
comercial entre duas regiões. Ao mesmo tempo, será para o Mercosul o fechamento
de uma parceria estratégica com seu maior parceiro comercial após a China e seu
maior investidor. Além da clássica declaração de que a maior parte da população
da nossa região é de origem europeia e fala línguas, espanhol e
português, europeias.
O acordo prevê uma gradual abertura
de mercados nos dois sentidos, mas protegendo alguns setores, e sendo menos
generosa para alguns produtos agrícolas como o etanol e a carne bovina. Aliás,
foi nestes dois itens que a negociação em Brasília empacou. Os europeus estão
oferecendo cotas ridículas, a de carne significa que os 4 países de Mercosul
poderão exportar anualmente a quantidade correspondente a um bife por habitante
europeu e a de etanol não passa de nossa produção de uma semana. O medo dos
agricultores europeus fortemente subsidiados, ao contrário da nossa
agricultura, é que vamos invadir a Europa com nossos produtos e acabar com
eles. Por outro lado se esquecem de que, no caso de França, o comércio de
alimentos no Brasil é dominado por empresas francesas. O mesmo acontece com
máquinas e automóveis, indústrias dominadas por europeus no Brasil.
As negociações foram acompanhadas por
forte contigente empresarial liderado pela chamada Coalizão Empresarial
Brasileira, aliada à CNI, que mais reclamava da proteção de setores do que de
um aproveitamento das oportunidades que o acordo vai oferecer. As entidades
empresariais CNI, CNA, CNC e setoriais, estão na absoluta maioria olhando o
futuro pelo retrovisor e sem nenhum projeto de desenvolvimento do seu
setor dentro de uma nova realidade que será trazida pela conclusão do acordo.
Está claro que o acordo, que ainda tem chance de ser concluído até o final do
ano em suas linhas gerais, traz muitas vantagens para quem está mais bem
preparado, como os europeus, mas ele abre inúmeras oportunidades para nossas
exportações.Se os franceses vão vender mais queijo para nos, nos podemos vender
mais pão de queijo e outros produtos lácteos para a Europa.
Mas, para isso precisa estar se
preparando já. Sem choro, preparar para uma nova fase de comércio mais
competitivo. Porque se não fizer isso, efetivamente o acordo por si só não vai
ajudar, mas atrapalhar. Ou teremos coragem e meios para sermos competitivos, ou
aí sim vamos desaparecer. O consumidor brasileiro não quer nem viver no mundo
subdesenvolvido, nem ter produto de segunda e nem ser cidadão da segunda
classe.
STEFAN SALEJ, consultor empresarial,foi presidente
do Sistema Fiemg e do Sebrae MG
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