Agência AMP: A liturgia deste último
Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus. A cruz é consequência de uma vida que se fez
serviço. Na cruz revela-se o amor de Deus, amor que não guarda nada para si,
mas que se faz dom total. O evangelho de Lucas na versão mais longa nos apresenta
uma riqueza de elementos para nossa reflexão. Inicia-se com Jesus ao redor da
mesa no seu último encontro fraterno com seus discípulos. “Fazei isto em memória de mim”. Sua vida toda foi sempre trigo que
se tornará pão, foi sempre uva que se tornará vinho. Dois elementos que
necessitam serem amassados, pisados para se tornarem comida e bebida. A vida do discípulo do reino deverá ser
desprendida, desapegada de si mesmo para se tornar alimento para a humanidade,
como foi à vida do Mestre, dom total para os outros. Os discípulos discutem
entre si, quem seria o maior. Jesus ensina-lhes que aqueles que desejam
segui-lo deverão renunciar as grandezas e honras deste mundo, e buscar ser
humilde, ser último, ser servidor. No monte das Oliveiras Jesus é confrontado
consigo mesmo, sua vontade e a vontade de seu Pai. O Pai não obriga o Filho,
assim como não ameaça nenhum dos seres humanos. Ele deu-nos liberdade e a
respeita. Quer homens livres, que sejam capazes de dar a vida aos outros por
amor. Jesus dá a vida, motivado e sustentado pelo infinito do Pai. Os
discípulos irão fugir, Pedro o escolhido para fortalecer os irmãos na fé, irá
negá-lo. Apresentado diante das forças imperiais religiosas e políticas da
época, Jesus irá ser julgado, acusado de blasfemo, é maltratado e acusado
injustamente, o inocente será morto, e lançado fora como um criminoso perigo.
Aquele que nunca usou de violência, irá ser violentado, aquele que não veio
para julgar, mas para salvar será julgado pelos mais injustos poderes
opressores, o que somente ensinou e viveu o amor, será odiado. O julgamento, e
cruz de Jesus Cristo revelam nossa insanidade humana. No julgamento e morte de
Jesus estavam todos os homens de todas as épocas, Ali estava sendo revelado,
desmascarado nossa maldade, nossa mentira, nosso desejo e apego pelo poder.
Julgamos, condenamos e Matamos continuamente os inocentes. No caminho do
calvário Jesus encontra solidariedade dos pequenos, dos pobres e desvalidos do
mundo. Na cruz do seu lado encontra ainda fé. No ladrão arrependido encontrou
confiança e reconhecimento. Jesus morre perdoando, pedindo perdão ao Pai pelas nossas maldades. O que dizer, como
entender tamanha loucura de amor? A cruz é maior expressão de amor de Deus pela
humanidade. Celebrar
a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor
tornou frágil. Por amor, Ele veio ao
nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o
cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou
sangue antes de aceitar a vontade do Pai, e, estendido no chão, esmagado contra
a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Contemplar a
cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma
atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que
sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são
privados de direitos e de dignidade.
Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de
estruturas, valores, práticas, ideologias. Significa evitar que os homens
continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com Jesus a entregar a
vida por amor. Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que
amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o
amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
Seguir a Jesus é abandonar-se nas mãos do Pai, e percorrer o mesmo caminho que
o Filho de Deus percorreu caminho de desprendimento, humildade e simplicidade.
Por: Pe. Reginaldo da Silva / Direto da Diocese de Guaxupé
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