Lincoln
Vieira Tavares
Quando da desencarnação de Allan Kardec, o astrônomo e
também espírita Camille Flamarion, ao
pronunciar um discurso em homenagem ao codificador do espiritismo, à beira de
sua sepultura, conforme consta do livro OBRAS
PÓSTUMAS, referiu-se ao grande missionário como “o bom senso encarnado”.
Realmente, ao estudarmos as obras básicas do espiritismo, e
também os diversos volumes que contém a Revista Espírita, em várias
oportunidades, ao se manifestar pessoalmente, Allan Kardec sempre colocava mais
ou menos assim, referindo-se a algumas teorias: “somente o tempo e estudos
futuros poderá nos oferecer conclusões a esse respeito”.
Na Revista Espírita, onde ele publicava correspondências
recebidas de assinantes, ou de pessoas interessadas em estudos filosóficos,
sempre que mencionada uma teoria nova, ou mesmo algo que poderia contradizer os
postulados espíritas, recém publicados, nosso codificador nunca colocava a
palavra final. Sempre fazia uso de expressões semelhantes às que já colocamos
acima.
Isso quer dizer bom senso, ou seja, ponderação no exame de
algo contraditório, ou desconhecido, sem a precipitação de colocar a palavra
definitiva, muito de acordo com a nova doutrina, no caso o espiritismo, que
também é ciência. Sabemos que a ciência investiga sempre, sem conclusões
apressadas.
Na verdade, até hoje nós ainda conservamos pessoalmente,
quem sabe oriundos do passado, os
dogmas, as chamadas verdades de fé, de tal modo que quando aparecem ideias novas,
interpretações diferentes das nossas, logo fechamos questão no sentido de
apontarmos erros, omissões, podemos até dizer “dogmatizando”, sem interesse algum no exame da proposição.
Trata-se de grande lição para todos nós espíritas, uma vez
que dentro da própria codificação está dito que o espiritismo não disse a
última palavra.
No primeiro capítulo do livro A GÊNESE, intitulado “Caracteres da Revelação Espírita”,
está claro que o espiritismo acompanhará a ciência, a par e passo, ao ponto tal
que se provada uma questão, em divergência com nosso entendimento doutrinário,
o espiritismo deverá acompanhar a própria ciência, “abrindo mão” de alguns conceitos.
Isso tudo significa “bom senso”, com o qual foi
qualificado Allan Kardec, por um grande cientista, como vimos.
Necessário então que não nos precipitemos, em conclusões de
tal modo apressadas, que poderão fazer com que ideias fundamentalistas se
espalhem no seio de uma doutrina tão abençoada como o espiritismo, livre de
preconceitos, que busca a verdade, ensinando-nos a importância da fé
raciocinada e da liberdade de consciência.
Acreditamos seja esse
tema importante para nossa reflexão, principalmente quando se comemora a vinda
ou a passagem de nosso querido Allan Kardec, que nos trouxe tanta luz e entendimento,
além de consolo espiritual.
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